homem reclama de não receber valor em áudio

Provas revelam alegado esquema de corrupção na Prefeitura de Luziânia

Documentos apresentados em um processo em andamento na 19ª Zona Eleitoral de Luziânia expõem um suposto esquema de corrupção no Executivo municipal. Em uma gravação atribuída ao presidente do diretório local do Democracia Cristã, João Carlos Dadalte Júnior, obtida pelo portal Metrópoles, o indivíduo reclama por não ter recebido parte do dinheiro combinado em uma prática conhecida como “rachadinha”.

No áudio, João conversa com um pastor identificado como Luiz Antônio Gonçalves Oliveira, dono do imóvel alugado pelo diretório do Democracia Cristã. Ele menciona que uma mulher indicada por ele para trabalhar na prefeitura de Luziânia não repassou o salário do cargo que ocupava.

“A paz do senhor Jesus, Pastor Luiz. Tudo bem? Pastor, estou ciente do atraso. Deixe-me compartilhar com você: meu dinheiro foi depositado na conta dela e ela se recusa a me devolver. Estou empenhado, juntamente com Divonei, secretário executivo do prefeito, em reaver esse valor. Porque o dinheiro não é dela. O cargo é meu”, inicia João.

“Eu a indiquei porque precisei me afastar para concorrer a vereador. A escolhi para ocupar meu lugar e agora ela recebeu esse dinheiro após as eleições. Foi depositado em sua conta e ela não quer devolvê-lo. Eu disse a ela que tenho minhas obrigações a cumprir, tenho contas a pagar. Estou tentando conseguir esse dinheiro para lhe enviar, tudo bem?”, explica.

O áudio foi adicionado a uma ação que evidencia uma série de irregularidades na prefeitura de Luziânia e em órgãos públicos locais. A Coligação Liberta Luziânia moveu o processo, alegando que a mulher foi nomeada na prefeitura no lugar de João, após ele pedir demissão para se candidatar a vereador em 2024.

Em outro áudio, João lamenta mais uma vez com o pastor a falta do repasse: “A paz do senhor, Pastor Luiz. Tudo bem? Infelizmente, até agora não consegui recuperar o dinheiro. Estou fazendo o possível. Ela não me pagou, não devolveu o cargo, está cada vez mais… se você soubesse como está”, desabafa.

“[…] Ela vai pagar o preço por isso, né? Deus vai cobrar dela. Ela até está ameaçando, mas falamos pessoalmente depois, com calma. Até o final do mês, o deputado [sem citar nome] vai enviar uma quantia para mim. Assim, eu vou quitar os dois meses, tudo bem? Para você. O mês passado e este mês”, conclui.

O pastor Luiz Antônio, por sua vez, envia uma mensagem à mulher: “Paz do senhor Jesus. O bispo João relata que não me paga por sua causa. Já são dois meses de atraso: água, luz e aluguel”.

Em um terceiro áudio, o secretário municipal de Saúde, Divonei Oliveira de Souza, revela possíveis cúmplices no esquema. Na gravação, a mulher citada por João conversa com Divonei e menciona que advogados a alertaram sobre ser usada como funcionária fantasma na Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano.

Durante a conversa, ela pede ajuda ao secretário para resolver a situação e busca ser oficialmente transferida para o local onde foi designada. No entanto, inesperadamente, Divonei aconselha que procurar um advogado foi um erro, e declara que, caso o caso seja denunciado, ele negará qualquer envolvimento com ela.

“Se você concordou em ser nomeada por ele, então você tem um acordo com ele. Se essa situação surgir, vamos declarar abertamente que não sabemos de nada. Vou negar qualquer relação com você, negar que te conheço, negar que conversei contigo”, afirma.

Questionado se o dinheiro do cargo em que trabalha pertence a ela, o secretário responde: “O acordo estabelecido é de que o dinheiro é seu”.

Teoricamente, ela deveria ocupar um cargo na Secretaria Municipal de Desenvolvimento, com salário de R$ 4 mil. No entanto, de acordo com a ação judicial, a mulher foi instruída por Divonei a trabalhar em tempo integral no comitê localizado na nova sede do Democracia Cristã tanto durante a pré-campanha quanto durante a campanha eleitoral de 2024, razão pela qual nunca compareceu ao órgão público.

Segundo a documentação, para “provar” que estava trabalhando na secretaria, ela precisava assinar a folha de ponto, encaminhá-la ao secretário Glênio Magrini, que assinava o documento e, por fim, entregava à Secretaria Municipal de Saúde.

Com o salário recebido do órgão, a mulher era obrigada a arcar com despesas do comitê, como luz, água, aluguel, manutenção do ar-condicionado, pagamento de um funcionário informal – que recebia R$ 700, entre outros. No final, ela ficava com R$ 800 e o restante do valor era repassado a João Carlos.

Uma carta supostamente enviada ao prefeito de Luziânia, Diego Sorgatto, resultou em um processo administrativo. Na carta, a mulher acusa o prefeito de conhecimento do esquema e solicita sua exoneração, mas o pedido não foi atendido. Diante disso, ela decidiu parar de repassar o dinheiro, momento em que afirmou ter sido ameaçada.

Um boletim de ocorrência sobre o suposto esquema foi registrado na Polícia Civil de Goiás. A demissão da funcionária fantasma foi efetivada somente em 31 de dezembro, por meio de um decreto.

Sorgatto afirmou à imprensa que não tem conhecimento da carta mencionada pela mulher, tampouco de qualquer esquema irregular. Ele ressaltou que, caso tivesse conhecimento, teria tomado medidas imediatamente.

O prefeito declarou desconhecer o processo em andamento na 19ª Zona Eleitoral de Luziânia e se colocou à disposição para colaborar, caso seja notificado. Os tentativas de contato com os demais envolvidos não obtiveram resposta até o momento. O Metrópoles permanece disponível para eventuais manifestações.