Quais são os potenciais perigos de recorrer a crédito para quitar as despesas?

Diante do panorama econômico desafiador, muitos cidadãos brasileiros têm optado por recorrer ao crédito para quitar despesas. O intuito é buscar um equilíbrio no orçamento e fazer frente a gastos inesperados. Uma pesquisa recente realizada pela Geru aponta que, no primeiro semestre de 2024, o pagamento de contas foi a principal justificativa para a busca por crédito, representando 30,67% das solicitações, seguido por investimentos em residência e custos relacionados a empreendimentos.

Comparativamente ao mesmo período do ano anterior, esse índice demonstrou um aumento significativo. Em 2023, a utilização de crédito para quitar contas correspondia a 24,94% das solicitações. Já o financiamento destinado às melhorias residenciais representava 17,09% dos pedidos, enquanto as despesas ligadas a pequenos negócios respondiam por 16,81%.

Quais são os perigos de optar pelo crédito para cobrir despesas?

Marcia Dessen, consultora financeira CFP certificada pela Planejar, esclarece que ao utilizar crédito para quitar despesas recorrentes, há o risco de acrescentar mais um compromisso financeiro a um orçamento já apertado.

“Com a incidência de juros, há uma tendência de que essa dívida se torne impagável. Nesse cenário, o crédito não se mostra como uma solução, pelo contrário. A saída consiste em aumentar a renda ou reduzir as despesas, ou ambas as alternativas em conjunto, se viável.”

Segundo a especialista, o crédito deve ser utilizado de maneira consciente, preferencialmente para propósitos ligados ao aumento do patrimônio ou ao bem-estar familiar.

“Algumas situações de bom uso de crédito englobam a aquisição ou reforma do lar, um veículo mais seguro para deslocamentos essenciais ao trabalho, um eletrodoméstico para facilitar as tarefas domésticas ou o investimento inicial para iniciar ou expandir o negócio familiar.”

Como evitar a utilização desnecessária de crédito?

Um planejamento financeiro bem estruturado e equilibrado é crucial para manter o controle sobre as finanças e evitar cair na armadilha de recorrer ao crédito para saldar contas.

O recomendável é registrar todas as despesas e receitas, planejando de forma consciente e antecipando os principais compromissos financeiros.

Reduzir ao máximo os gastos supérfluos também é essencial para garantir um alívio no final do mês.

“Além de um planejamento financeiro sólido, é fundamental manter uma reserva financeira. A vida nos surpreende com eventos pequenos, como consertos em eletrodomésticos ou veículos, e grandes eventos, como divórcios ou perda de emprego. Contar com uma reserva de emergência nos possibilita lidar com essas situações sem precisar recorrer ao crédito para quitar contas”, salienta Marcia.

Inicialmente, pode demandar um esforço adicional para constituir essa reserva – especialmente para aqueles que já recorreram ao crédito para lidar com despesas. Nesse sentido, uma fonte de renda adicional pode ser útil. “Sem a reserva para imprevistos, é desafiador encerrar o mês sem precisar recorrer ao crédito para pagar contas, e o mês seguinte estará inevitavelmente comprometido”.